O ano era 1997, mais precisamente o dia 17 de agosto. Em um quartinho nos fundos da antiga "InfoGraphics", não imaginávamos, Giuliana e eu, que pudéssemos chegar tão longe. Mas, aqui estamos, nós e a gedegato. Naquele dia, recebemos de um contador (pagamos o trabalho dele com o desenho de uma marca, é claro) o documento que oficializava a então G Design Gráfico SC Ltda. e assim pudemos emitir nossa primeira nota fiscal. Por essa história, passaram "coisas", que muitos que lerão esse texto sequer sabem o que significa. Nossa primeira linha telefônica foi alugada e o aparelho tinha um disco onde “discávamos” o número, daí surge o termo. Utilizávamos “LetraSet” e fazíamos “paste up”. Já tínhamos nosso primeiro computador, é verdade, comprado por um “leasing” com valor corrigido em dólar em 24 parcelas, o que foi possível porque o plano Real já tinha três anos e não convivíamos mais com a hiperinflação, onde os preços chegavam a ser reajustados em três mil porcento ao ano. A internet estava só começando no Brasil, e aliás nosso primeiro projeto contratado, ainda antes da oficialização, foi para uma BBS (Bulletin Board System). Por aqui passaram “modens” discados, aparelhos de fax, sites desenvolvidos em flash, inúmeros modelos de telefones celulares, monitores grandes com telas pequenas, monitores pequenos com telas grandes, “mouses” com fio, com pilha, sem fio, impressoras grandes e pequenas, máquinas fotográficas com filme, máquinas fotográficas digitais grandes com baixa resolução e pequenas com alta resolução, disquetes, “Zips”, CDs, DVDs, gravadores, leitores, cabos de telefone, muitos cabos de rede, cabo de ligar na tomada no outro aparelho, cabos e mais cabos. E tudo isso ficou pra trás, é passado e lixo, a “mercadoria” dos brancos como cita Davi Kopenawa em seu “A Queda do Céu”. Há exatamente dez anos, quando da ocasião de nosso aniversário, escrevi um texto onde refletia sobre minha ainda paixão pelo “design” e como acreditava que com ele poderia ajudar a melhorar o mundo. Essa paixão permanece viva, mas por caminhos diferentes daqueles que eu acreditei um dia. Sim, é preciso mudar e isso se faz urgente para que possamos continuar contando histórias daqui a dez ou vinte anos. Sempre roubo essa frase de Ariano Suassuna, "Eu não sou nem otimista, nem pessimista. Os otimistas são ingênuos, e os pessimistas, amargos. Eu me considero um realista esperançoso”. Vejo todas as empresas falando em sustentabilidade, responsabilidade social, ESG, impactos positivos e muitos outros termos bonitos, que na maioria das vezes é apenas propaganda, vejo pouca ação verdadeira para mudarmos nossas relações com o planeta e com a vida. O “design” que eu prefiro chamar de desenho, historicamente foi responsável por ser uma poderosa ferramenta na engrenagem dessa máquina criando produtos incríveis e melhores a cada dia, para que pudéssemos jogar o antigo fora e nos encantarmos com o novo. Temos que repensar a “Máquina de Fazer Coisas” (Ailton Krenak, A Vida Não é Útil). Criamos embalagens sedutoras que só podem ser consumidas por quem as pode comprar, aprendemos o que era “appetite appeal”, criamos marcas poderosas que falam diretamente à alma do “consumidor”. Vivemos um tempo em que essas marcas são mais valiosas do que nações inteiras e somos escravizados por uma tecnologia que nos torna mais e mais dependentes a cada dia com o nosso consentimento. O Brasil e o mundo vivem um momento importante em sua história, e acredito que ainda temos capacidade de sermos protagonistas nessa mudança que o mundo precisa. Tudo isso é grande e complexo demais, mas não podemos deixar de lado. Voltando aos nossos 25 anos, penso com carinho na Giuliana que caminha ao meu lado e em todas e todos que passaram por aqui, clientes, fornecedores, gente que emprestou seu talento nos ajudando a resolver os desafios propostos, gente que sentou à mesa e na cadeira ao lado, que se importou, que ajudou e que participou, que sorriu e que chorou com a gente, os velhos e o novos amigos e amigas que essa jornada nos permite. É preciso arrumar a “casa comum” para seguirmos em frente, temos muitos desafios, maiores que há 25 anos.​​​​​​​

* A marca que ilustra esse texto foi a primeira que ousei desenhar (1992), para o curso de Desenho Industrial da PUC Pr. Era minha ideia de olhar para o mundo, e do “design” como ferramenta de observação e foi o que tentamos, eu e Giuliana fazer durante esses anos, observar e contar histórias.

Giovanni Dameto



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